Cada chegada a Vale de Boi, de noite e com poucas luzes era motivo para respirar saudades e pensar como estaria a aldeia no dia seguinte.
Lembro-me da avó Virgínia nos receber com muitos abraços, o avô Joaquim com um sorriso quente e sempre uma chávena de chá de bela Luísa e uns biscoitos, feitos nesse dia a pensar na nossa chegada. Quase sempre a querida vizinha Olivia também bebia este chá connosco e nos desejava uma boa noite, saindo em seguida.
Depois íamos para a outra casa. A casa era fria, mais fria que a nossa casa na cidade, sentia-se o vazio da casa vazia de gente, dos quartos arrumados e sempre prontos, mas vazios, e mesmo assim eu adorava entrar pelo corredor fora e ir jogar-me para cima da cama de casal que servia para mim e para a minha irmã.
Antes de nos deitarmos, havia sempre tempo para umas cambalhotas, umas gargalhadas, uns pulos, até nos rendermos ao cansaço e deixarmos que a avó Virgínia abrisse a cama, sempre muito perfeita e arrumada.
O que eu me lembro do peso das mantas da avó!
Era tão bom deitar-me e sentir aquele peso. Lembro-me perfeitamente da sensação do corpo pesado contra o colchão, de pedir mais uma manta, ainda mais uma, porque tinha frio ou quem sabe porque queria apenas sentir mais peso, e adormecer, rendida ao sono e à vontade de ver a aldeia na manhã seguinte.
E lembro-me de acordar.
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Há tempos vi qualquer coisa na Internet sobre uns cobertores pesados usados para aliviar o stress e ansiedade, achei engraçado e levou-me a recordar as mantas da avó.
"Aumenta os níveis de serotonina e melatonina, diminui a quantidade de cortisol, melhora o seu estado de espírito e promove um sonho reparador. A solução ideal para o stress, a ansiedade e a insónia”
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Hoje a Julieta deitou-se e apesar de já ter 2 mantinhas finas e 1 edredom em cima dela pediu-me mais uma manta, e eu sorri. Coloquei-lhe o edredom da cama da Rosita, porque a Rosita esta noite está deitada na cama com o Zé, e a Julieta aninhou-se debaixo de tanta roupa e pediu que me deitasse com ela um bocado.
Foi assim, debaixo de 2 mantas e 2 edredons, bem quentinhas e juntinhas, que lhe contei a história das mantas da avó Virgínia, ou seja avó Gina para ela.
Que bela recordação.
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