Os miúdos estavam todos na sala, a brincar e nem os chamei porque iria demorar alguns minutos para que a sopa estivesse boa para comer. Entretanto o Tiago chegou ao pé da mesa para me contar alguma coisa, nem me lembro o que era porque no mesmo momento o Zé meteu-se entre mim e uma cadeira e num gesto rápido enfiou a mão numa taça de sopa a escaldar!
Bom, os gritos que deu!
A minha reacção foi sacudir-lhe a sopa quente da mão e correr a pôr a mão debaixo da torneira de água fria. Coitadinho, chorava aflitivamente, os dedinhos todos vermelhos, quando lhe tirei a camisola que tinha a manga molhada, vejo que o pulso na parte de dentro também estava vermelho e com uma bolha já rebentada.
Foram minutos aflitivos, sabia que lhe doía, conseguia ver que a extensão exigia ir ao hospital, mas por outro lado sabia que não seria assim tão grave, mas as dores! Nem a maminha ele queria para acalmar.
Chamei o pai Fura Bolos, que do outro lado da linha só ouvia o choro do Zé, e em 20 minutos ele estava em casa para ficar com os outros meninos e eu poder ir ao hospital.
Finalmente o Zé acalmou, deixou de chorar quase por magia (ou terá sido das gotas de Rescue que lhe dei), sentei-o no carro e pus-me a caminho.
Decidi ir ao hospital publico mais próximo (Lagos) apesar de não ter pediatria, mas uma queimadura é uma queimadura. Fui muito bem recebida, o serviço estava muito calmo, o Zé foi logo chamado e na triagem expliquei como tudo aconteceu.
O enfermeiro depois de escrever tudo no computador, olhou para mim e disse:
- Estava aqui a pensar, mas tenho que lhe dizer isto. Nem acredito que este bebé está aqui tão calmo, tão desperto e atento, sem chorar, e dar os parabéns à mãe pela calma e maneira positiva como tratou de tudo até chegar aqui e como o está a apoiar de maneira positiva e sem dramas. Fez tudo o que tinha que fazer. Chegam aqui adultos com queimaduras mais pequenas aos gritos.
Babei toda! Que mais pode uma mãe aflita querer ouvir! (espero que o enfermeiro leia isto e perceba como palavras certas na hora certa podem ser tão importantes)
Passamos para o sr doutor que viu e disse que bastava fazer um penso e não seria necessário antibiótico, mais um ponto.
Durante o tratamento deviam ter visto o Zé. Sentado na maca, calmo, olhar tranquilo, colaborante, falador ... eu e os 2 enfermeiros de conversa, sobre o ter 6 filhos, sobre eles ainda não terem filhos, sobre o curso de suporte básico de vida que fiz em Novembro e que foi tão importante neste caso ... Pelo pé dele o Zé saiu, de braço ligado, disse adeus a todos, sorriu.
De volta à recepção para carimbar a guia de tratamento diz a senhora:
- Ele portou-se bem, não, eu não ouvi chorar
A minha resposta foi mesmo um simples sorriso e confirmei, sim, ele não chorou. A senhora fez-me uma festa na mão e desejou-me uma boa hora para o parto e eu saí de lá feliz.
A noite estava calma e com o Zé pela mão andei até ao carro e voltei para casa.
Ufa, foi um susto, mas não passou disso mesmo. Não me culpei pelo que aconteceu, aconteceu porque tinha que acontecer, eu estava mesmo ali ao lado, mas uma mãe é uma mãe ... e os acidentes acontecem, quando estamos e quando não estamos.
O Zé é mesmo um bebé forte! Se fosse o meu, devia de chorar horrores, não é nada calmo!
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