Aqui vive-se, trabalha-se, estuda-se, convive-se ... enfim, há uma vida na aldeia e por ser aldeia nem por isso é calma.
Já houve quem dissesse que trabalhar em casa e vender o meu trabalho através da internet me poderia isolar, fazer com que não convivesse, tirar-me a oportunidade de falar e ver gente ... pois desengane-se quem pensa assim.
De manhã até às 10h há a rotina de pequeno almoço em família, levar os miúdos à escola, deixar outros nas avós, beber um café com o pai Fura Bolos, falar com quem está a essa hora no café, comentar a aldeia e o que se vai passando.
Outros dias há em que a manhã até às 10h se prolonga até às 12h ou 13h, tudo depende de festas de escola, compras, reuniões, vacinas, consultas ...
Enquanto trabalho das 10h às 13h30, ainda vai havendo tempo para internet, conversar com o marido, fazer alguma coisa cá em casa...
Depois há a hora de almoço, normalmente fora de casa, com os sogros, filhos e quem mais por lá estiver. Cafézinho e casa e trabalho novamente.
Ora esta parte da tarde às vezes é ainda mais complicada que a manhã.
Sentava-me eu uma tarde destas à máquina já "atrasada" para o meu trabalho, quando toca o telefone. Da junta de freguesia ligavam-me porque precisavam de ajuda. Uma senhora que lá estava a falar inglês que ninguém percebia ao certo o que ela queria.
Lá me levanto, pensando pronto, lá se vai mais uma hora de trabalho.
A senhora com ar asiático, muito sorridente, não queria mais do que saber como fazia para colocar as cinzas do falecido marido no cemitério aqui da aldeia. Explicada a situação, fim de conversa, eis que ela me quer pagar um café para agradecer a ajuda prestada... recuso, digo que tenho mesmo que voltar para casa para trabalhar.
- Ah, então trabalha em casa, e faz o quê?
- Costura.
E antes que eu tivesse tempo para explicar que tipo de costura, já ela me estava a dizer que me havia de trazer um par de calças de pijama para colocar um elástico novo!
Entrego-lhe um cartão meu e esqueço o assunto, volto para as costuras.
Há 3 dias toca o telefone, à noite, na hora da confusão de idas para a cama e choros.
Para inicio de conversa, não percebia conversa nenhuma, até que percebi quem era e o que queria.
Não, não queria marcar hora para lhe arranjar as benditas calças de pijama, mas sim convidar-me para jantar depois da cerimónia de bênção das cinzas do falecido marido. Marcada a hora e local disse que iria aparecer mas com certeza não teria tempo para jantar, ficaria-me por uma bebida.
19h do dia marcado, meia hora atrasada, entro no restaurante à espera de encontrar uma mesa de estrangeiros e gente desconhecida ... e afinal ao olhar com mais atenção vejo, nada mais nada menos que o painel de senhoras da aldeia que costumam frequentar a igreja! Tirando elas só 3 pessoas estrangeiras e o padre da paróquia!
Alegre conversa, ora em inglês ora em português, vinho nos copos, entrada, prato principal e sobremesa, e pelo meio perguntas:
- Ana, como se chama a sra?
- Olhe, nem sei! (e era verdade, nem o nome da viúva eu sabia, quanto mais o nome do morto, ou do que teria morrido!)
- Ana, já és amiga da senhora há muito tempo?
- Eu? (risos) Não! Mais ao nada tinha-a conhecido hoje!!
Aqui já faltavam alguns dos mais ilustres convidados, o senhor padre e algumas senhoras.
Estão a ver aquelas cenas de filme, em que há um que entra no casamento ou funeral errado e não sabe nada sobre quem ali está? Ora sem tirar nem pôr, com a diferença que aqui não era 1 mas uma mesa inteira de gente que não fazia ideia do que estava ali a fazer! Foram todas convidadas na igreja, 1 semana antes a viúva foi marcar a cerimónia e convidou quem lá estava... e claro que educadamente ninguém faltou, afinal era um jantar importante e no restaurante!
Comida e bebida e ao voltar a pé para casa o riso era inevitável... sentia-me saída de uma cena insólita, escrita por alguém para uma qualquer comédia e eu era apenas mais uma personagem perdida na cena...
Lindo!!!!
ResponderEliminarLeio, releio e desmancho-me...
ResponderEliminarCM
Ehehehe amigo CM!! Também eu!
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